Kevin Carter, 1993, New York Times.
Carter exercia seu trabalho na cobertura da fome na África. Foi no Sudão em que registrou este instante fotográfico em que um bebê, subnutrido, jaz, quase morto, próximo a um abutre, que o espreita na caça de alimento.
Carter ganhou o prêmio Pulitzer com esta imagem, pouco depois, suicidou-se, aos 33 anos. Não pode se salvar com suas imagens,nem a si e nem a consciência humana, estagnada ante o genocídio pela fome, vizível a ôlho nú nos países miseráveis, pobres e subdesenvolvidos. Segundo informa o blog dos fotográfos do Estado de Minas, acessado em 29/6/2011, o menino da foto sobreviveu :
"O jornal El Mundo, descobriu que o bebê era um menino, chamava-se Kong Nyong. Segundo o periódico espanhol, a enfermeira Florence Mourin, que coordenava os trabalhos do programa das Nações Unidas para o combate à fome no Sudão, em Ayod, palco desta trágica imagem, o menino era acompanhado, como prova a pulseira branca na mão direita, que se podia ver na fotografia premiada."(Op.cit.).
O autor do texto blogado no jornal de Belo Horizonte sugere que pensemos sobre o vídeo que recebeu de aumigo, como motivo para reflexão sobre o a consciência no trabalho do fotojornalismo:
"Até quando o fotojornalista pode se omitir de agir contra um ato de violência em busca da melhor foto ou prêmio? "
A resposta a essa pergunta, formulada pelo blogueiro anônimo do jornal Estado de Minas, pode estar na poesia do mineiro, Carlos Drummond :
"A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca."
A consciência é de cada um, embora esteja envolta pelo inconsciente coletivo. Na preservação da memória, os indivíduos fazem a história de seu tempo, documentam a sua época, através de narrativas orais, escritas ou imagéticas e todos têm o livre arbítrio para escolher sua conduta moral, ética, ante a realidade vivida.
Longe da fome na Àfrica e dos cruuéis abutres, perto do coração do mundo, sob os braços abertos do Cristo complacente, a carioquinha Manoela, sobrinha neta da gema, indaga a existência com o olhar de ver meticuloso do fotográfo, que vê para além das lentes a imagem, no instante em que ela é.
Crianças, poetas, loucos e animais podem se apossar do "Eu" da coisa, do "instante em que ela é", como diz o poeta portugues Fernando Pessoa.
Como na cena fotográfica, o ser é o instante em que é:
LEVE, LEVE, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.
[PESSOA, Fernando. O EU PROFUNDO E OS OUTROS EUS: "O GUARDADOR DE REBANHOS (1911-1912) - XIII",
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 26º impressão, 1996. Pág. 148].
Nenhum comentário:
Postar um comentário